Arte e Solidão
por César Romero
A solidão sempre foi tema para a arte, cinema, televisão, teatro, dança, literatura, música, artes visuais. A exposição de Caíque Costa (foto) aborda o tema de maneira clara, sem subterfúgios e com a coragem daqueles, que pouco, ou quase nada se importam com o que o mundo externo poderá pensar. O que importa a seu eu, são suas escolhas, determinações e conceitos. Assim é mais fácil lidar com as situações adversas e com pensamentos disfuncionais. Quanto mais perto das verdades pessoais, mais fácil resolver as questões que a vida nos apresenta. Não é mais simples, nem menos sofrido, mas só resta ao ser humano em sua complexidade o enfrentamento.
A ciência descobriu que pessoas que tem muitos amigos produzem mais ocitocina, um hormônio produzido no cérebro, mais especificamente no hipotálamo, que melhora a ansiedade, a depressão, o convívio social. A ciência provou que amigos nos dão melhora do humor e mais disposição para viver. Para atravessar um momento em que se sentia só, o artista usou como condição terapêutica enviar pela cidade um anúncio: “Sinto-me só. Escreva-me uma carta de amor”. Esperou por três meses, até que suas provocações tivessem respostas. Muitos em solidariedade, outros curiosos, partilharam trocas de cartas por dois anos, já na pandemia, Caíque resolveu desativar a caixa postal dos correios.
Com o material em mãos Caíque Costa, decidiu construir um projeto que está em exposição no Museu de Arte da Bahia – Corredor da Vitória. São histórias, fotos, recortes de anúncios de jornais, comprovantes de pagamentos, QR Codes, matérias de jornais sobre solidão, fotos de envelopes, transcrições de textos recebidos, colagens, formas de arte digital e com esse material montou a exposição Sinto-me só. Escreva-me carta de amor. A exposição é de uma verdade absoluta e encontramos frases como: Iniciei trocas de cartas com desconhecidos; Reparou como os velhos, vão perdendo a esperança, com seus bichinhos de estimação e plantas?; Não sei se consegui falar o suficiente a meu respeito; Fique a vontade para fazer perguntas; O senhor também se sente sozinho? Espero receber nova carta sua; solidão dói; Ministro da solidão é nomeado no Japão; Solidão é uma nova epidemia; Caíque Costa é artista visual e pesquisador. Baiano de Salvador. Branco. Homem gay cis, divorciado. Amigo de poucos e pai de dois gatos.
Com essa sincera e corajosa exposição Caíque aglutina pessoas, revela seu mundo e busca respostas. Sua exposição ajuda a reflexão, a você direcionar sua vida para a felicidade. A exposição vai até 21 de janeiro de 2023 no Museu de Arte da Bahia.
* César Romero é artista plástico, crítico de arte e colunista do jornal Correio. Matéria publicada em 26 de dezembro de 2022, no Caderno Vida, versão impressa e online.